Cronópios Editora

Um espaço de discussão e aprendizado para professores de Língua Portuguesa.

20.2.08

Auto-avaliação - parte 2

[Continuação do texto "Auto-avaliação" - parte 2]

Mas, afinal, o que eu fazia?
Primeiro: eu dizia para os professores fazerem coisas que eu mesma jamais havia feito em sala de aula (as minhas experiências como professora esbarraram, inicialmente, numa concepção tradicional de ensino por conta das instituições por onde passei e pela minha própria formação acadêmica), porque eu tinha lido sobre essas coisas e achava que eram bacanas. Mas não tinha a menor idéia de como os professores as iriam pôr em prática.
Depois, como no começo os programas de capacitação nos quais trabalhei eram ainda muito precários (como muitos ainda o são nos dias de hoje), num formato de pequenos cursos (distribuídos em módulos), não havia neles espaço para discussão das equipes de formadores. Quer dizer, havia espaço para tomar decisões sobre conteúdos e “dinâmicas”, mas não para a reflexão dos efeitos dessa prática no próprio formador e em seus grupos. Ainda que muitas das propostas fossem sérias e baseadas em teorias bem fundamentadas, era no conteúdo que se centravam todas as escolhas para o perfil de um projeto de formação de professor.
Por fim, havia ainda a dificuldade para determinar quais deveriam ser os objetivos prioritários de cada um desses projetos de formação. Em alguns, a equipe de formadores nem participava da elaboração do projeto, recebendo o material e o como fazer já prontos das equipes de coordenadores. Isso, evidentemente, dificultava a compreensão dos objetivos e da finalidade das estratégias, o formador cumpria um papel de mero aplicador de conteúdos desencontrados. Se, por um lado, isso facilitava o trabalho, porque me desobrigava a pensar no que fazer, por outro, me obrigava a enfrentar salas repletas de professores reais que, diante da obrigatoriedade de lá estar, viam-se num contexto inseguro: o do próprio projeto de formação (a serviço de demandas governamentais com a educação, mas sem necessariamente ter implicação com os sujeitos que fazem a educação) e da formadora inexperiente (este foi o meu caso nos primeiros programas dos quais participei) para lidar com as demandas e problemas desse contexto.
O que ficava para mim, dessa realidade, era a insatisfação e a angústia, que me exigiam reflexão, busca, discussão, troca, lugar de escuta.

[Continua na próxima postagem, sob o título "Auto-avaliação" - parte 3]
Eliane Aguiar