Cronópios Editora

Um espaço de discussão e aprendizado para professores de Língua Portuguesa.

11.2.08

Enquanto isso, na sala de aula...

O contexto era o seguinte: em uma aula voltada aos estudos da comunicação, de uma disciplina oferecida em todos os cursos da universidade, foi solicitado aos estudantes que redigissem um convite personalizado, tendo como referência estilos apresentados por personagens de uma série televisiva.

E o pedido foi claro: “misturem aspectos verbais e visuais”. No entanto, como professora de Língua Portuguesa, devo confessar que minha expectativa centrava-se no universo das palavras. Imaginei receber uma folha com o texto, alguma cor e estilo de letra. Só.

Sim, recebi alguns exatamente desse jeito. Mas também vários outros, muito diferentes: designs de envelopes variados e bonitos, alguns mesmo com três dimensões; trabalhos com cores, imagens e, claro, com o texto escrito.

Reconheço que as produções ficaram muito além do que esperava. E tenho certeza de que esse fenômeno não se deu por um especial envolvimento dos alunos com a disciplina ou com minha figura. O que aconteceu ali foi, a meu ver, um momento de “epifania pedagógica”.

Percebi que não seria capaz de produzir metade daqueles convites, nem sequer pensaria em fazê-los daquela forma. Simplesmente porque não desenvolvi aquelas habilidades no decorrer da vida. Os alunos as possuem e talvez alguns tenham menos facilidade em organizar frases, orações e períodos. Mas será que um convite é menos embalagem do que o texto escrito? Minha epifania foi poder me perguntar: por que essa primazia do verbal? Ele é mais importante mesmo ou não sei ver de outro modo? Não seria aquela uma forma de “interpretação de um texto” tão legítima quanto qualquer outra feita com signos verbais?

Guardadas as devidas proporções, creio que a situação vivida diz respeito aos professores de LP (ou mesmo de outras áreas), de forma geral. Defendemos a supremacia dos vocábulos, devido à nossa formação e prática profissional, e talvez estejamos nos esquecendo de que há muitas outras habilidades a serem desenvolvidas em outras linguagens.

Mais do que isso: se observarmos de forma menos mecânica, é provável que todas possam ser encaradas como formas de leitura e produção de textos; basta apenas que as encaremos dessa forma. Não que o que escrevemos e o modo como o fazemos não importe. Porém, em uma sociedade imagética como a nossa, de repente me pareceu um tanto estranho esse apego quase atávico ao mundo das palavras.

Débora de Angelo

2 Comments:

  • At 29/02/2008, 17:00, Blogger Unknown said…

    Uau! Esse texto é um grande tapa na cara, e por que não dizer um "saculejo" para nós professores tão fechados no mundinho de conteúdos programáticos e tão cegos a abertura criativa e inovadora de cada um em seu universo indivídual. Não que eu acredite que todas as aulas tenha que se desenrolar dessa forma, mas com certeza,algumas vezes não só vai explorar o lado criativo do "aprendente", mais também dar-lhe oportunidade de aproximar do mundo da educação e da descoberta sem medo.

     
  • At 03/03/2008, 16:35, Anonymous Anônimo said…

    Olá, Paula, obrigada pelo post.

    Débora

     

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