Na mídia
Pesquisas na internet são ótimas. Quase sempre encontramos o que queremos e, normalmente, achamos o que não queremos. Num desses achados não programados, li uma matéria intitulada “A nova arte de aprender”, publicada na revista Superinteressante de setembro/2007 (Edição 243). O artigo apresenta algumas descobertas recentes da neurociência, a respeito do sistema cognitivo humano, que poderiam ser aplicadas na sala de aula, facilitando a aprendizagem. Nada de neurolinguística, felizmente (os adeptos que me perdoem, mas eu confesso um certo preconceito...), mas aspectos físicos que teriam grande influência na qualidade do aprendizado.
De “descobertas” que não são novidade alguma (“o aluno precisa estar bem alimentado”; “a memória depende do sono”) a informações que realmente fazem jus ao nome da revista (“os hormônios da adolescência pedem pelo menos 9 horas de sono por dia e fazem a atenção dos jovens só atingir o pico às 11 horas”), a matéria desmistifica alguns chavões a respeito do cérebro e da educação, como aquela velha história que afirma que usamos apenas 10% de nossa capacidade cerebral, ou que existem alunos visuais, auditivos ou sinestésicos. A base do artigo é o livro de Koji Myiamoto, Understanding the brain: the birth of a learning science (“Entendendo o cérebro: o nascimento de uma ciência do aprendizado”, sem edição brasileira), e traz depoimentos de pesquisadores e professores da UFMG e da USP.
Tais descobertas da neurociência propõe que as aulas do período da manhã deveriam começar mais tarde, especialmente no ensino médio, e que deveriam ser mais curtas, com pausas e exercícios diferentes, visando auxiliar a memorização. Outra proposta é espalhar as avaliações ao longo do tempo, ao invés de concentrar as provas em uma semana, pois esse sistema dificultaria a aprendizagem de longo prazo.
Será que é possível implantar essas propostas? Seria válido tentar? Certamente não dá para começar as aulas do período da manhã mais tarde, nem reduzir os atuais 50 minutos de cada aula, pelo menos por enquanto. Mas dividir a apresentação de conteúdo em pequenos blocos de 10 minutos, separados por pausas com exercícios fora do tema apresentado, talvez seja interessante. Quem se habilita?
Além de apresentar essas novas teorias, o artigo questiona o sistema de alfabetização construtivista de Jean Piaget, propondo a volta do método fonético. Isso me lembra uma história...
Final de domingo diferente, visita dos tios, muita brincadeira, delícia de dia.
- Letícia, você já fez a lição?
- Não, mamãe.
- Como, não? Já tá de noite e amanhã de manhã vamos ao médico! Pega seu caderno agora! Vamos, vamos!
Desânimo, lentidão. Caderno aberto sobre a mesa.
- Deixa eu ver. Ah, tá fácil, é só copiar a frase três vezes. Vai, Letícia, sem moleza, hein? Vai, “Fábio afia a faca”. Fácil, né? Então vai. “Fábio afia a faca”.
Sozinha na sala, lápis na mão direita, a pequena cabeça apoiada na mão esquerda, um ar desolado e a pergunta que não quer calar:
- Mas quem é Fábio?
Angela Annunciato
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